Início Geral Pesquisa com bactérias na Amazônia pode desenvolver novos medicamentos

Pesquisa com bactérias na Amazônia pode desenvolver novos medicamentos

0
unnamed-file-16
© Ricardo Stuckert/PR

Parte da pesquisa de ponta em fármacos no Brasil acontece levando amostras de solo de Belém (PA) para um complexo de laboratórios maior que um estádio de futebol em Campinas, no interior paulista. Toda essa jornada é realizada para analisar seres microscópicos no acelerador Sirius, o maior microscópio da América do Sul, localizado no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Com ele, cientistas podem entender os genes das bactérias e as substâncias que elas criam.

Os estudos focam substâncias com potencial antibiótico e antitumoral. Recentemente, os primeiros resultados foram publicados em uma revista científica internacional, destacando o grande impacto da pesquisa. O trabalho é fruto da colaboração entre o CNPEM e a Universidade Federal do Pará (UFPA), com coletas efetuadas no Parque Estadual do Utinga, uma área protegida na Amazônia. A investigação concentra-se em bactérias das classes Actinomycetes e Bacilli, incluindo o gênero Streptomyces, reconhecido pela produção de compostos bioativos.

Uma etapa crucial da pesquisa é o uso do sequenciador PromethION, que permite a leitura precisa e econômica de genomas complexos. Liderado pelo pesquisador Diego Assis das Graças, da UFPA, o sequenciamento revelou um vasto número de moléculas desconhecidas produzidas pelas bactérias amazônicas, muitas das quais possuem grande potencial para o desenvolvimento de medicamentos.

Segundo Daniela Trivella, coordenadora de Descoberta de Fármacos do LNBio, mais de dois terços dos fármacos criados no mundo advêm de pequenos metabólitos naturais. A Amazônia, com sua biodiversidade única, provê um ambiente essencial para encontrar substâncias inexploradas, reforçando a importância de preservar seus ecossistemas. As análises realizadas no Sirius também mostram que boa parte do potencial genético das bactérias selvagens não é completamente explorada nos laboratórios tradicionais.

Outro enfoque da equipe foi aplicar técnicas de metabologenômica para transferir genes de bactérias amazônicas para espécies domesticadas. Isso permite que os laboratórios produzam em maior escala as moléculas identificadas como promissoras, viabilizando novos testes. Assim, cientistas expandem as possibilidades de uso biotecnológico, transformando DNA natural em novos fármacos para tratar infecções e tumores.

Apesar do avanço científico, o trabalho enfrenta desafios como o desmatamento acelerado. A Amazônia registrou recordes de queimadas em 2024, reforçando a urgência de ações combinadas entre ciência e políticas públicas. Contudo, o investimento voltado ao bioma, parte de iniciativas como a aprovada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), abre possibilidades de desenvolvimento sustentável e valorização econômica do território.

A Plataforma de Descoberta de Fármacos LNBio-CNPEM reúne as tecnologias necessárias para acelerar o processo de desenvolvimento científico. Essa estrutura vai desde a análise do DNA até a preparação de moléculas candidatas para a aplicação médica. As próximas fases da pesquisa prometem explorar a Amazônia oriental, buscando novas moléculas ainda desconhecidas e expandindo o alcance da biotecnologia brasileira.

O esforço faz parte do projeto Iwasa’i, ligado à iniciativa Pró-Amazônia, que trabalha no desenvolvimento de centros avançados dedicados às áreas estratégicas da região amazônica. Essa abordagem integrada demonstra como ciência de ponta e conservação ambiental podem caminhar juntas.

Sem comentários

Deixe uma resposta

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Sair da versão mobile