A porcentagem de mulheres que concluem cursos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) no Brasil caiu significativamente desde a pandemia da covid-19. Dados revelam que, em 2019, 53% das mulheres matriculadas se formaram, mas em 2023 essa taxa caiu para 27%, enquanto entre os homens, houve uma redução de 36%.
Segundo um levantamento feito pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, utilizando informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o impacto foi mais severo entre as mulheres. Um dos motivos apontados é o aumento da demanda doméstica durante crises, que afetam desproporcionalmente as mulheres. Este contexto foi mencionado pelo CEO da Nexus, Marcelo Tokarski.
Francilene Garcia, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), pontuou que em períodos de crises, mulheres assumem maiores responsabilidades familiares, o que compromete sua continuidade na formação acadêmica. Ela defende ajustes em políticas afirmativas que garantam a permanência das mulheres nas áreas de STEM.
Apesar de domínio masculino nas áreas citadas, o ingresso de mulheres aumentou na última década. Em 2023, 26% dos ingressantes em cursos STEM eram mulheres, mas ainda há barreiras significativas para atrair mais brasileiras a essas profissões. Enquanto o número de mulheres ingressantes cresceu 29% entre 2013 e 2023, o aumento masculino foi de 56%, o dobro.
Na engenharia, que concentra a maior parte das mulheres ingressantes em STEM (48%), houve uma tendência de queda de 21% desde 2013. Em contrapartida, áreas como a de computação registraram crescimento de 368% no mesmo período, evidenciando mudanças nas preferências acadêmicas das mulheres.
Francilene Garcia destaca que maior diversidade e pluralidade garantem melhores resultados científicos. Para ela, ciência será mais impactante quanto mais plural for, envolvendo homens e mulheres no estudo e na resolução de fenômenos globais e problemas locais.