Em áudios extraídos de celulares de militares investigados por suposta participação em uma trama após as eleições de 2022, novas evidências apontam para tentativas de articulação golpista. Segundo os registros, o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida discutiu estratégias como “plantar vídeos de Olavo de Carvalho” para influenciar manifestantes a se dirigirem ao Congresso e pressionarem o Legislativo.
Marques de Almeida, que servia no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), afirmou que vídeos do escritor Olavo de Carvalho continham diretrizes que poderiam servir à causa. Ele orientava civis em grupos privados a mudarem seus protestos da frente dos quartéis do Exército para o Congresso, indicando que esse seria o local de maior impacto para pressionar as instituições.
Além disso, ele detalhou que o objetivo era utilizar greves e paralisações econômicas para forçar o Legislativo e os grandes investidores a tomarem medidas contundentes. Outras declarações do militar também sugerem a possibilidade de rejeitar os resultados da eleição de 2022, retomando a pauta do voto impresso e realizando novas eleições, com ou sem Jair Bolsonaro.
Outro áudio, obtido pela Folha, expôs o general da reserva Mario Fernandes mencionando um decreto enviado ao então presidente. Ele reforça a ideia de executar o plano golpista com movimentações estratégicas. Ambas as revelações foram inicialmente divulgadas pelo programa Fantástico, da TV Globo, e aprofundam a preocupação com a atuação de militares nesse contexto.
Narrativa Golpista e Mobilização Popular
Em conversas adicionais, o tenente-coronel destacou abertamente o risco de prisão para os militares envolvidos caso assumissem a liderança dos movimentos. Ele ainda acrescentou que uma “massa humana” no Congresso seria essencial, pois a presença em grande número poderia sobrepujar as forças policiais, segundo ele. Almeida também argumentava que, em momentos de “convulsão social”, as Forças Armadas teriam de “sair das quatro linhas” da Constituição.
Os áudios revelam uma tentativa articulada de usar redes sociais e influenciadores para disseminar as ideias golpistas em grupos civis, mobilizando setores da sociedade a confrontar diretamente os Três Poderes. Com declarações como “não adianta protestar na frente do QG do Exército, tem que ir ao Congresso”, fica evidente o esforço em alterar a narrativa dos manifestantes para atingir objetivos políticos específicos.
Investigação e Repercussão
Os desdobramentos desse caso trazem novas questões sobre a atuação de setores militares e civis em ações contra o resultado eleitoral de 2022, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu Jair Bolsonaro. As gravações estão sendo avaliadas pelas autoridades competentes e serão peças-chave no avanço das investigações.
A apuração da trama golpe avança em meio a discussões maiores sobre o papel das Forças Armadas na política e os limites constitucionais. Enquanto isso, especialistas alertam para as implicações graves que esses acontecimentos trazem ao fortalecimento do Estado Democrático de Direito no Brasil.