As ondas de calor, consideradas eventos climáticos extremos, têm impactos significativos e amplamente negligenciados no Brasil, afetando especialmente a saúde pública. Embora essas ondas sejam uma consequência das mudanças climáticas, ainda há pouco entendimento sobre seus efeitos catastróficos, que atingem principalmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, pessoas de baixa renda e trabalhadores ao ar livre.
O aumento das ondas de calor no Brasil
Estudos recentes mostram um aumento expressivo no número de dias com ondas de calor no país, saltando de sete, no período histórico entre 1961 e 1990, para 52 dias no intervalo entre 2011 e 2020. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), foram registradas 20 ondas de calor entre 2023 e 2025, com um impacto crescente nas regiões centrais da América do Sul.
Desafios para a saúde pública
Embora as ondas de calor sejam desastres silenciosos, seus impactos na saúde são graves. Pesquisas realizadas em 14 regiões metropolitanas brasileiras identificaram 48 mil mortes atribuíveis ao calor excessivo entre 2000 e 2018, sendo os principais fatores doenças cardiovasculares, respiratórias e renais. Contudo, há subnotificações, já que mortes causadas por “calor” não costumam ser registradas como tal, dificultando o mapeamento do problema.
Vulnerabilidade social agravada
O impacto das altas temperaturas é intensificado por desigualdades socioeconômicas. Mulheres, pessoas negras e pardas, além de quem vive em áreas urbanas menos arborizadas ou com infraestrutura precária, estão entre os mais afetados. Trabalhadores informais ou pessoas expostas ao calor ao ar livre enfrentam desafios ainda maiores.
Impacto urbano e envelhecimento da população
Nas áreas urbanas, as chamadas “ilhas de calor” aumentam o desconforto térmico. Este fenômeno, causado pela urbanização desordenada, agrava os efeitos das ondas de calor, prejudicando ainda mais cidades com pouca vegetação e alta densidade populacional. Além disso, o envelhecimento da população brasileira exige políticas públicas voltadas para os idosos, que possuem maior vulnerabilidade devido à dificuldade de regulação térmica do corpo e preexistências de doenças crônicas.
Soluções e recomendações
Pesquisadores enfatizam a importância de conscientização da população e desenvolvimento de políticas públicas para enfrentar as ondas de calor. Protocolos semelhantes aos adotados na Europa, como alertas climáticos, adaptações urbanas e fortalecimento do sistema de saúde, precisam ser considerados. Além disso, reduções nas emissões de gases de efeito estufa e ações para mitigar desigualdades sociais no Brasil são vitais para reduzir os impactos futuros.