Pesquisadores da UNIFAL-MG conduziram um estudo utilizando a alface como modelo para investigar como o pH influencia a toxicidade dos resíduos de mineração de ferro. Os resultados sugerem que o monitoramento e a correção do pH em áreas afetadas por rejeitos de mineração são essenciais para a implantação de programas de reflorestamento e recuperação ambiental.
O estudo foi coordenado por Fabrício José Pereira, professor do Instituto de Ciências da Natureza (ICN), e contou com o apoio de biólogos e estudantes da instituição. A pesquisa foi publicada na revista internacional Environmental Science and Pollution Research, sob o título Iron mining tailing toxicity is increased by lower pH affecting lettuce seed germination, seedling early growth, and leaf anatomy.
De acordo com informações da UNIFAL-MG, o experimento investigou os efeitos de diferentes valores de pH (4, 5, 6 e 7) sobre a germinação e o desenvolvimento inicial da alface (Lactuca sativa L.). As condições de acidez foram alteradas utilizando calcário (para aumentar o pH) e ureia (para reduzir). Essas substâncias são de baixo custo e amplamente usadas na agricultura. Durante os testes, foi observado que resíduos com pHs menores (mais ácidos) demonstraram maior toxicidade, impedindo completamente a germinação das sementes a valores de pH 4 e 5.
Resultados do estudo
Os dados apontaram que, em pH neutro (6), o resíduo de mineração de ferro tem baixa toxicidade para a alface. Nesse cenário, não houve impacto significativo na germinação das sementes ou crescimento das plântulas, exceto por um leve comprometimento das raízes. Por outro lado, em condições mais ácidas, a toxicidade dos resíduos aumentou devido à maior disponibilidade de metais como ferro (Fe), alumínio (Al), cádmio (Cd) e chumbo (Pb). No pH 7, ligeiramente alcalino, o desenvolvimento das mudas foi afetado, mas não pela toxicidade, e sim pela diminuição na disponibilidade de nutrientes essenciais.
Conforme Fabrício Pereira, o estudo reforça a importância de corrigir o pH em locais impactados antes de ações de reflorestamento. A neutralização pode ser feita de forma prática utilizando calcário em solos ácidos ou ureia em solos com pH elevado. Além disso, chuvas e a decomposição da matéria orgânica podem alterar o pH dos solos, o que exige monitoramento contínuo para evitar problemas futuros.
Implicações ambientais
Os pesquisadores destacaram a relevância dos resultados para a recuperação de áreas degradadas pela mineração, como os rejeitos do rompimento da barragem em Mariana-MG. Embora o resíduo testado seja proveniente desse acidente, os especialistas alertam que os dados obtidos não devem ser generalizados para outros locais sem estudos prévios complementares. Ainda assim, o método pode servir como modelo inicial para outras áreas.
A pesquisa é parte de um projeto aprovado pela FAPEMIG, com financiamento de R$ 79.359,49. Além de ampliar o entendimento sobre os impactos dos rejeitos, ela também visa contribuir para políticas públicas eficazes e soluções práticas na recuperação ambiental de áreas afetadas pela mineração.
O artigo completo publicado na revista Environmental Science and Pollution Research pode ser acessado clicando aqui.