Uma mulher de 28 anos foi presa em Belo Horizonte sob suspeita de falsificar documentos médicos para requerer indenizações relacionadas à tragédia de Brumadinho. A investigação conduzida pela Polícia Civil durou 11 meses e revelou detalhes do esquema, que envolvia a emissão de laudos médicos e psicológicos com informações falsas.
De acordo com informações do g1, o esquema funcionava a partir do encaminhamento de clientes por advogados para consultas realizadas pela investigada em duas clínicas da capital mineira. Muitos desses atendimentos eram feitos por mensagens de celular ou formulários e duravam apenas cerca de dez minutos. Médicos e psicólogos posteriormente elaboravam laudos atestando que os pacientes sofriam de transtorno de estresse pós-traumático decorrente do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, ocorrido em janeiro de 2019.
Fraudes detectadas em ações judiciais
Os laudos fraudulentos eram repassados aos advogados que acionavam a Justiça, solicitando indenizações que variavam entre R$ 10 mil e R$ 100 mil. Durante a investigação, a Polícia Civil constatou que vários laudos apresentavam trechos idênticos, incluindo a repetição dos mesmos códigos internacionais de classificação de doenças relacionados ao transtorno.
Além disso, algumas das ações apresentavam pedidos de pessoas que residiam em Brumadinho, porém em locais distantes da área impactada pela tragédia ou que não tinham qualquer ligação com as vítimas atingidas. Esses fatores despertaram a atenção do Judiciário, que identificou irregularidades em centenas de processos entre as 12 mil ações periciadas até o momento.
Na última quarta-feira (12), buscas na residência da suspeita resultaram na apreensão de documentos como receitas médicas, papéis carimbados e folhas com assinaturas de profissionais de saúde, o que comprova indícios do esquema. Outras 24 pessoas também estão sendo investigadas.
O desastre de Brumadinho
A barragem administrada pela Vale se rompeu no dia 25 de janeiro de 2019, liberando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração sobre instalações da empresa, comunidades locais e o Rio Paraopeba. A tragédia resultou na morte de 270 pessoas, duas das quais permanecem desaparecidas.
Os desaparecidos são Nathália de Oliveira Porto Araújo, estagiária da Vale que estava em horário de almoço no momento do rompimento, e Tiago Tadeu Mendes da Silva, engenheiro mecânico que havia sido transferido para Brumadinho vinte dias antes do ocorrido. Seis anos após o desastre, o Corpo de Bombeiros continua as buscas pelas vítimas ainda não localizadas.
Recentemente, em 6 de fevereiro, a Polícia Civil identificou segmentos de Maria de Lurdes da Costa Bueno, aumentando o número de vítimas reconhecidas na tragédia.